Confins de Lisboa

A palavra confim (mais usada no plural) parece ter sido sempre utilizada como sinónimo de área remota, de localidade distante, de extensão de terra. A expressão confins do mundo nos remete a um lugar imaginário onde tudo é possível. Entretanto, etimologicamente falando, o termo confins vem do latim confinis que significa fronteira que, com a pandemia da Covid‑19, vem para recuperar a essência do real significado com a palavra confinamento.

Nos meses de Fevereiro e Março de 2021 tornou‑se proibido sair do concelho de residência aos fins de semana. A partir desse encerramento obrigatório no concelho, surgiu a ideia deste trabalho. Percorrer a pé os limites de Lisboa tentando (quando possível) caminhar na linha que separa a capital do resto dos concelhos limítrofes, ou na impossibilidade, o mais perto possível dela. Encontrou‑se pequenas florestas, caminhos de terra, muros recém‑construídos, muralhas antigas e, claro, o rio Tejo. As fronteiras físicas e as naturais foram impondo o ritmo e os limites do caminhar pelos limites do concelho de Lisboa.

Em grande medida, esse projeto é um trabalho meditativo sobre o território e confinamento, que nos leva a refletir sobre fronteira, limites, restrições, solidão, vazio e, também a revisitar espaços próximos e afastados geograficamente do centro da cidade no contexto de um confinamento. Por isso também, além das pessoas ‑‑ que por ali transitam de forma "higiênica"‑‑, a natureza também se mostra bucólica e nos leva a questionar até quando temos que nos limitar às fronteiras que se levantam por onde possamos caminhar.

Lisboa, Portugal. 2021